terça-feira, 10 de novembro de 2015

A Arte De Sandra Moreyra


A Arte De Sandra Moreyra

Sandra Moreyra era uma mulher inteligente, direta, dona de um dos mais belos e francos sorrisos que conheci. Sabia se expressar como poucos. Bem articulada, viajou pelo mundo a fora, trazendo informações e cultura para aqueles que eram, como eu, seus fãs incondicionais.
Apaixonada pela gastronomia, que pesquisou e que conhecia a fundo, tinha na TV Globo, no Bom Brasil, um dos quadros que  certamente  mais encantaram e adoçaram a boca de todos os que  assistiam o programa antes de partirem para suas respectivas jornadas de trabalho. A Arte na Mesa.
Conheci a Sandra em 1995,  eu ainda uma aprendiz, ao fazer um quadro no programa sobre os amadores que estavam se profissionalizando. A filmagem aconteceu na escolinha de minha querida amiga Ciça Roxo e de sua prima Leonor, que pioneiramente davam aulas de culinária para os aficionados.
Lembro-me da cheese cake de laranja com amoras que apresentei e de meu orgulho ao me ver nas telas de TV.
No ano seguinte, na mesma escolinha a Sandra gravou um programa com um jovem chef paulista, que veio dar aulas sobre Foie Gras, pouco conhecida na época. O chef estava nervoso, pois era seu primeiro programa de televisão e cortou o dedo. Trabalhou de luvas. O nome do chef era Alex Atala.
Em 1998, quando, junto com a Ciça e a Leonor montamos um ciclo de aulas com chefes conhecidos, entre eles o próprio Alex, Francesco Carli, entre outros,  ela nos prestigiou.
Em Fevereiro de 2001 abrimos um restaurante na Barra, o Bistrô Montagu e lá estava ela, cliente e amiga.
E foi lá que fez algumas de suas belas matérias. Em 2004 fizemos um jantar harmonizado com a linha de vinhos Secretos da Viu Manent. A harmonização era feita por intermédio do ingrediente secreto que existia em cada prato, que deveria ser descoberto pelos comensais.
A reportagem começava por um passeio da câmera pelo restaurante, com o fundo  musical de Hitchcock.
Sandra participou do jantar, é claro, e foi a mais entusiasmada em descobrir todos os ingredientes. Foi uma noite inesquecível.
Outra feita, ao fazer uma reportagem sobre caviar, começamos com o mesmo sendo derramado voluptuosamente sobre ostras cozidas no vapor de seu próprio líquido. Usamos uma colherinha de madrepérola, tal e qual os Czares e a aristocracia russa se servia.
Ao fazer suas reportagens, ela chegava com antecedência, com seu texto escrito e ensaiado. Tudo transcorria com uma fluidez impressionante.
Seus textos eram sucintos, bem escritos e continham a maior quantidade de informações possíveis. Uma craque!
Tive a oportunidade de privar de sua companhia e seu marido Rodrigo, xará  do meu então marido, e lembro com muito carinho dessas tardes adoráveis em que rimos muito e ouvimos alguns de seus casos. Eram tantos.
Jamais esquecerei de sua voz grave, de seu sorriso aberto, marca registrada.
Foi e será um exemplo de profissionalismo,  coragem, e de alegria de viver.
Perdemos nós, que ficamos aqui em baixo e nos privamos de sua companhia. Ganham os lá de cima que usufruirão de sua Arte na Mesa.

sábado, 7 de novembro de 2015

Abraçadinhos



Abraçadinhos

Durante muitos anos, sempre que saia por algum motivo no fim da tarde, eu cruzava com um casal de velhinhos, perto de minha casa. Ele era alto e magro. Ela era baixinha, com belos cabelos brancos, que usava num coque. Iam tomar sorvete.
Eles caminhavam sempre juntinhos, abraçados um ao outro, andando devagarinho, no ritmo plácido da velhice, de quem sabe que  não adianta ter pressa para  encontrar a morte.
E serenos, se entreolhavam eventualmente, e conversavam sobre o tempo, sobre a vida e sobre os assuntos banais do dia a dia.
Falavam baixinho e lentamente, com pausas prolongadas, pois ambos tinham todo o tempo do mundo para escutar um ao outro.
Sempre me admirei ao vê-los, abraçadinhos eternamente, depois de uma vida juntos. Um amor tão antigo, provável fruto de uma paixão ardente, quando jovens. Duas almas que deram a sorte de se encontrarem.
Sempre fiquei pensando sobre o que possam ter passado em sua existência em comum. Tiveram filhos? Tiveram netos? Tiveram perdas? Quem sabe?
Sei que tinham um ao outro. E que os dois eram um.
Quando os via, eu parava para observá-los, em seu passinho dos antigos, tão belos e tão dignos em seu amor.
E um alento me aquecia a alma, ao constatar que nesse mundo tão descrente em que vivemos, de relações virtuais, efémeras, vazias, tão eventuais e erráticas, ainda havia espaço para um sentimento tão puro e verdadeiro.
Nessa era de aparências, onde é mais importante mostrar aos outros como somos felizes, em vez de nos ocuparmos  verdadeiramente em o sê-lo, a verdadeira felicidade é essa que passeava candidamente à minha frente.
Um dia deixei de vê-los. Gosto de pensar que partiram juntos para outro lugar. Abraçadinhos e se entreolhando. Não é bonitinho?



domingo, 1 de novembro de 2015

Sussurros

Sussurros

Um bar de classe média, desses em Copacabana, frequentado pelas pessoas médias, no meio da semana, mediamente cheio. A conversa rolava amena entre os frequentadores, todos familiares, amigos ou moradores, conhecidos dos donos do estabelecimento.
Como a maioria dos pequenos bares do bairro, as mesas eram pequenas e encostadas umas nas outras e, portanto, mesmo sem querer, acabamos por participar dos dramas cotidianos da vida alheia.
E lá estava eu, mediamente entediada, passando o tempo, enquanto esperava por minhas companhias.
Diante de mim um copo de vinho branco, ao meu lado um casal.
Como já disse antes, sou uma observadora compulsivamente fascinada pelo comportamento humano, fonte infinita de inspiração para minhas modestas considerações a respeito da vida comum, que é a vida vivida por nós.
De frente um para o outro, sussurravam alto seus entendimentos, os quais não se entendiam.
À volta o ambiente familiar começava a se animar, certamente incentivado pelo nível etílico da clientela.
E os sussurros ao meu lado também subiam de tom. As palavras eram ditas mas, ao que parece, não eram entendidas. Ouvia-se mas não se escutava o que fora dito.  Triste e comum erro entre os casais - na ânsia de se fazerem entender pouco compreendem o que o outro quer falar. Os copos eram os dados, e ambos eram os peões do próprio jogo de emoções atribuladas, que jogavam com o desespero de viciados. E lá permaneceram,  cada um do seu lado da mesa, tabuleiro estratégico dos sentimentos ali postos em jogo. E a cada jogada, mais e mais apostavam, sem se dar conta do quanto perdiam. Amor, desamor, amizade, angústia, medo, incompreensão, dignidade, respeito, desprezo, raiva, desespero...
Não houve vencedores. Saíram ambos derrotados pela vida, que se interpôs em seus caminhos e os separou. Mas guardaram - creio e desejo a eles - ainda uma última cartada, que é a esperança, que traz consigo o remedinho mágico chamado tempo que cura tudo e faz esquecer.
Meus amigos chegaram. Fizemos um brinde à vida, tão boa, tão cruel, tão doce e tão amarga. Tão inesperada, e ainda assim esperada, mas acima de tudo, a vida que temos, que merecemos(ou não) e que vivemos.
Brindei com um chopp bem geladinho...

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A Tela Branca


A Tela Branca

Diante de mim a tela branca me desafia.
-  “Vamos ver! Mostre ao que veio!”
Dentro de minha cabeça milhares de ideias se engalfinham pelo privilégio de ser a primeira a ser gravada na tela branca.
Fecho os olhos e ouço o Concerto de Brandenburgo no. 3 em meus fones de ouvido. A música me acalma e estimula ao mesmo tempo. Eu presto atenção nas belas frases musicais. Os instrumentos choram, riem, conversam entre si, todos falando ao mesmo tempo, numa harmonia quase dolorosa.
Diante de mim as ideias dançam frenéticas, numa tentativa infrutífera de se organizarem.
Abro os olhos e diante de mim está a tela branca. Pouso os dedos no teclado, os quais levemente estremecem. O coração acelera e se aperta na antecipação de mais um processo sofrido de apaziguar os pensamentos indóceis.
Meus dedos não se movem.
 Nesse momento, presa, imobilizada,  sinto-me uma mensageira que perdeu o rumo e que esqueceu o seu destino.
Com o coração no passado, a mente no futuro, cá estou eu no presente, diante de uma tela branca, dividida entre buscar respostas no que passou, ou alternativas no que virá.
A tela branca me fita, debochando de minha capacidade de  marcá-la de forma indelével e irreversível com as minhas impressões desordenadas.
O coração aperta mais um pouco, num laço que não vai se desfazer enquanto a tela branca não for apaziguada.
Eu suspiro e começo a escrever sem pensar, como num transe, como se uma terceira pessoa tivesse tomado minhas mãos e estivesse fazendo uso delas sem me pedir licença.
As Suites para Cello de Bach tomam o lugar do Concerto De Brandenburgo. A música agora é um lamento, ora pungente, ora insistente, que  é como um lembrete de que não posso abandonar meus pensamentos, que sou a criadora e a responsável por minhas ideias indisciplinadas.
E estas não me respeitam.  E me atormentam nas horas mais improváveis.  Por outro lado e no entanto,  elas me acalentam e me servem de companhia em noites insones, quando me levanto para arrumá-las na tela branca, onde se aquietam e me trazem o alívio e a paz tão desejados.
E eu as olho e as releio infinitas vezes, o preto no branco, sem nuanças de cinza para aplacar ou suavizar as dores, as paixões e os pensamentos ali expostos, de forma quase indecente. Minha alma desnudada sem o véu das dissimulações.
E uma sensação paradoxal se abate sobre mim. De vergonha e de libertação, por me haver exposto de forma absoluta e inconsequente.
Diante de mim a tela branca. Agora, marcada pelos meus sentimentos e ideias,  torna-se o meu legado.  Pois o que fica para sempre é o que pensamos e que transmitimos aos outros, sejam nossas dores, nossas alegrias, nossas experiências, nossas ideias, nossos pensamentos, cada um  deles um fragmento ínfimo do conhecimento humano.
Diante de mim a tela a tela branca. O meu maior alento e consolo. O meu maior desafio.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

OLHARES



Olhares

O restaurante era simples. Sem maiores decorações. Mesas cobertas com toalhas xadrez. Cozinha honesta, sem frescuras, farta em quantidade e em sabores.
No canto, senta-se um casal. Nem tão moços, nem tão velhos, nem bonitos, nem feios, apenas um par.
E eles se olham. E ele olha.
Ela sorri.
Ele olha.
Ela suspira e remexe o cabelo.
Ele olha.
Envergonhada, ela abaixa os olhos.
Ele só olha.
Ela torna a sorrir.
E a suspirar.
E ele olha...
O garçom coloca diante deles dois pratos.
E eles nem olham.
Apenas se entreolham.
Alheios ao mundo que os cercava, lá ficaram, apenas a se olharem, dizendo um ao outro, com seus olhares,  muito mais do que meras palavras poderiam falar.
Ele estende as mãos para ela, sem desviar o olhar.
Ela toca as mãos dele, sempre a olhar.
Ela sorri. Ele olha.
Eles se levantam e abraçados vão embora. Sempre a se olharem, enlevados, na descoberta do outro.
Nem velhos, nem moços,  nem bonitos nem feios, mas únicos no universo de seu amor.
E eu fiquei pensando. Feliz da mulher que, nem tão nova, nem tão velha, nem bonita, nem feia, foi contemplada, pelo menos uma vez em sua vida, com tal olhar.



terça-feira, 18 de agosto de 2015

A Noite dos Descolados



Turma descolada
Bruna em um momento de descontração  

A Noite dos Descolados


Era um desses lugares da moda, bem moderninho, mistura de bar e restaurante,  decoração arrojada, e cozinha contemporânea , é claro.
Lá fomos nós, grupinho animado, curtir a quinta-feira.
Salão lotado, clientela eclética, maneira chique de dizer que tinha de tudo: os descolados, os formadores de opiniões, os deslumbrados, os moradores da vizinhança  e alguns passantes incautos, que viram o bochicho e entraram.
Precavidos, havíamos reservado. A hostess, com um modelito estilo saco a vácuo, escova progressiva nos cabelos e sorriso Colgate, nos encaminhou até nossa mesa, espremida entre outras, onde nos sentamos em cadeiras, bancos e pufes e afins, que faziam parte da decoração.
Logo veio um rapaz trajado com jeans rasgados, camisa branca para fora,  com tranças rastafari e piercings no nariz, orelhas e onde mais fosse possível pendurar qualquer tipo de argolinhas. Muito simpático, logo se apresentou: - “Oiéé! Sou o Rafa! Sou eu que vou cuidar de vocês nesta noite!”
Tal declaração nos tranquilizou, ao sabermos que estaríamos nas mãos de tão prestimosa criatura.
Rafa então distribuiu alguns cardápios e explicou: - “Trata-se de nossa carta de drinks especiais, criações de nosso mixologista.” (mixologista: anglicismo derivado do verbo em inglês mix, que substitui o antigo nome  também em inglês - Bar Tender).
De fato,  mistura é a palavra que define bem os drinks ali oferecidos, pois todos eram compostos por uma grande quantidade de ingredientes que incluíam frutas, especiarias, infusões, xaropes,  essências e o álcool para catalisar o resultado.
Escolhemos alguns e, confesso, achei todos com gosto muito semelhante, e me lembraram os antigos Drops Dulcora que chupava, em minha infância.
Rafa, que nos havia deixado a sós com os drinks, surge, vários minutos depois, com o cardápio de comida, também descolado e preparado pelo chefe que acaba de voltar da Europa, onde fez estágio nos melhores restaurantes, e que  está empenhado em valorizar a cozinha e os ingredientes brasileiros.
Tivemos uma certa dificuldade em fazer nossas escolhas, em primeiro lugar por que o restaurante era muito escuro e mal conseguíamos enxergar o que estava escrito. Com a ajuda dos sempre presentes IPhones, conseguimos iluminar o cardápio.
O segundo problema foi decidir o que escolher. Queríamos algo mais simples que combinasse com a proposta descontraída do lugar e com os drinks, por sua vez, muito elaborados. Infelizmente não pudemos contar com a ajuda de Rafa, pois este aparentemente estava às voltas com algum assunto gravíssimo lá dentro, que o impedia de comparecer ao salão.
Entre os feijões de Santarém, tucupi, pequi, sementes de quiabo fritas, espumas de cará e outros itens de nossa imensa terra, achamos um mix ( acho que é a palavra de ordem do momento) de tapas brasileiros, que nos pareceu razoável.
 E eis que volta o Rafa, um tanto quanto esbaforido, quiçá ansioso, e lá se foi com nossos pedidos. A essa altura, eu já havia desistido dos drinks e partido para um vinho branco básico, que consegui por meios extremos. Fui direto ao bar e pedi ao mixologista de plantão.
O salão não parava de encher. Havíamos desistido de conversar pois além da musica altíssima, a acústica do ambiente amplificava o vozerio  exaltado dos frequentadores, certamente muitos decibéis acima do suportável. Nos contentamos em observar as figuras que nos rodeavam.
 Flashes pipocavam a cada segundo.  As selfies bombavam. Whatssaps  a mil! Instagram! Facebook! Curtidas! Estávamos na nova Terra do Nunca, onde as pessoas nunca se encontram de verdade, apenas em realidades paralelas, eternamente separadas pelos Aplicativos e outros seres míticos, habitantes dos Universos Virtuais.
Más noticias! Rafa definitivamente nos abandonou! Para substitui-lo  apareceu Bruna, seu avatar feminino, de cabelos platinum com reflexos laranja, cortados por algum cabeleireiro surtado, após ingerir alguns litros de chá de cogumelos alucinógenos. Bruna, obviamente, também usava piercings, usava jeans rasgados e uma blusa que certamente pertencera a sua irmã caçula. As unhas e batom negros completavam o visual. Detalhe: Bruna pagava cofrinho...
A gentil Bruna finalmente nos trouxe o Mix, tão penosamente escolhido por nós.
Olhei o prato com exacerbada curiosidade e uma certa apreensão. Lá estavam os indefectíveis itens da moda: espumas, texturas, mini brotos. Ausentes: sabores, aromas, satisfação. Suspirei e me abstive de comentários. Naquele momento desejei ardentemente ser a Feiticeira, do  seriado de TV, que com uma mexidinha do nariz, transformaria aquele pandemônio num bistrô singelo, de toalhinhas xadrez , onde se pudesse usufruir de boa comida em boa companhia e em silencio...
Bruna, misteriosamente, também desapareceu, tragada pelo Buraco Negro que suga todos os garçons em hora de movimento. Pena... estávamos sentindo falta de seu visual discreto.
Acabamos por pagar a conta direto com  a moça emburrada do caixa, que não parou de reclamar de tudo e de todos, enquanto lidava com nossos cartões.
A noite sem fim  finalmente chegou ao fim. Em casa,  ainda zonza,  com os ouvidos doloridos pelo silencio ensurdecedor que normalmente sucede àquela barulheira infernal,  cheguei à seguinte conclusão: não sou descolada.
Eu estava exausta. Muita informação . De fato, muita informação.


PS: Faço neste momento um aparte. Gosto do Brasil e dos sabores tropicais. Gosto de regionalismo. Portanto, a cozinha Paraense tem o seu apogeu em Belém.  A Nordestina no Nordeste. Por que não podemos definir uma cozinha carioca com os ingredientes que crescem perto de nós?  Nada contra usar ingredientes de outras partes do pais. Mas cansa ver a copia da copia da copia de um original, há muito deturpado...

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O Gosto das Palavras



O Gosto das Palavras

Sinto saudades de algumas palavras que, parece-me, caíram em desuso.
Outrora, alfarrábios, almejar, por conseguinte, soslaio, inexorável, chumbrega, outrossim,  tantas outras... Algumas engraçadas, outras poéticas, formais e por que não,  prosaicas e até bizarras: substantivos, verbos e advérbios, adjetivos, todas fizeram parte de minha infância e permanecem vivas em minha memoria.
Sinto falta do pretérito mais-que-perfeito, que por ser tão perfeito pertence aos romances de outrora, que li em minha adolescência, onde as cenas de amor tinham lugar em saraus e bailes, em que as damas flertavam com os cavalheiros com olhares de soslaio, e se abanavam  afogueadamente com seus leques.
Provavelmente são os primeiros acenos da idade - afinal somos todos destinados a envelhecer – mas acordei nostálgica, com a mente voltada para o passado.
Lembranças de infância e de outros tempos vieram me visitar, e com elas as palavras adormecidas que por lá permaneceram, guardadas em antigos alfarrábios, resquícios de trechos lidos, de fantasias imaginadas e de pensamentos ao acaso.
As palavras são nossas amigas. Mais do que isso: são a representação de tudo o que somos. São as nossas companheiras em noites insones, quando nossos pensamentos se misturam com nossos sonhos de forma inexorável, e vagam soltos e indomáveis. São nossas guias confiáveis,  quando almejamos galgar as trilhas precisas do raciocínio lógico.
Têm vida, assim como nós. E têm gosto, texturas, assim como os pratos que os cozinheiros inventam. Algumas são grandiosas como as copiosas refeições, outras são chumbregas como uma media com pão e manteiga, mas nem por isso menos valiosas.
Tem palavras doces, que se derretem na boca . Há outras voluptuosas, que fazem nossa língua se enrolar e salivar ao serem pronunciadas. Tem aquelas crocantes, que nos dão a sensação de mastigar salgadinhos de pacote.
E  há as aveludadas, que  envolvem o paladar e nos confortam. Para acrescentar temperos, podemos usar palavras picantes. Porque não?
Mas, como em tudo nessa vida, há a contra partida.
Assim como nos consolam e  acalentam, as palavras podem ser amargas como o fel, que nos escorre goela abaixo. Podem ser e são ferinas, tão ácidas que nos queimam por dentro, deixando um rastro de  feridas que não cicatrizam.
Por seu intermédio podemos dar vazão a tudo o que sentimos, o  que queremos expressar,  do amor mais sincero ao ódio mais profundo, da admiração extrema ao desprezo absoluto.  Podemos aprender e ensinar. Elas são o inesgotável alimento de nossa alma.
Diz o ditado que somos senhores das palavras não proferidas. Não concordo.
São elas as servas mais fieis de nossas ideias. Somos, no entanto, responsáveis pelo que falamos e como o dizemos. Por conseguinte, devemos ser capazes de arcar com as consequências.
Outrossim, nada mais a declarar.
Palavras! Palavras e mais palavras! Benditas sejam!



domingo, 2 de agosto de 2015

Se Você Fosse Um Vinho?


Se Você Fosse Um Vinho?

Gosto de vinhos. Desde pequenina. Sempre que havia um almoço na minha casa, meu pai me dava um pouco, misturado com água e um pouquinho de açúcar. Eu me lembro nitidamente da sensação agradável que me vinha ( provavelmente o álcool).
No entanto, passaram-se muitos anos antes de voltar a apreciar a bebida.
Ao ingressar no mundo da gastronomia, comecei a aprender sobre essa fantástica descoberta do homem. E quanto mais aprendo, mais vejo que menos sei e mais o assunto me fascina.
Provavelmente a bebida alcóolica mais antiga da humanidade ( há uma disputa entre o vinho e a cerveja e, recentemente fala-se em hidromel), o vinho é  uma dádiva da natureza. Os primeiros vinhos foram provenientes da fermentação natural das uvas caídas no chão. Por serendipidade, alguém, há milhares de anos atrás, teve a feliz ideia de provar as uvas fermentadas e tomar o primeiro porre da humanidade. Algum tempo depois, outro alguém de nossa engenhosa  espécie resolveu dar uma mãozinha à natureza e criou o primeiro processo de vinificação.
Os vinhos, assim como nós, possuem vida, caráter e personalidade. Eles nos encantam, nos surpreendem e, algumas vezes, nos decepcionam. E, assim como nós, são únicos.
E cada um tem um destino e uma missão a cumprir. E um jeito de ser.  Comparo as pessoas às diferentes variedades de vinhos.
Provavelmente seu vinho predileto tem a ver com o tipo de pessoa que você é. Vamos lá. Alguns exemplos.
Há aqueles que são como os Cabernets de Bordeaux. Elegantes, cultos, refinados, tradicionais, frequentam os ambientes mais sofisticados e jamais perdem a dignidade.
As pessoas Pinot Noir da Borgonha são glamorosas, sexy, frequentam os lugares badalados, são trendies, descoladas.
Já o tipo Merlot é discreto,  aparentemente frágil, mas que esconde uma grande força interior e que seduz de forma lenta, porém irreversível.  Seu charme só pode ser percebido por aqueles com espíritos superiores. Um bom Merlot jamais se esquece.
Há os  Malbec Novo Mundo, estilo pitbull, que chegam arrasando, porém são absolutamente desprovidos de conteúdo e enjoam logo depois do primeiro copo. A convivência com eles nos deixa exaustos.
E há os assemblage, que misturam Syrah, Malbec, Cabernet Franc e eventualmente Merlot e outras mais. São extremamente confusos, complicados, nos fazem pisar em ovos e nos deixam sem entender o que está acontecendo.
Não podemos esquecer dos italianos Sangiovese,  francos,  alegres, vivos, amigos, bons parceiros para uma noitada, para se rir e curtir a vida.
E há, claro, os neuróticos Carménère , impacientes, impulsivos, que não tem tempo para esperar, sempre ansiosos, e que não conseguem ouvir uma frase completa e escutar o que você tem a dizer.
 E tem mais, muito mais! Eu nem falei nos branquinhos básicos.  São milhares de variedades! São milhões de combinações! Há um vinho para cada um de nós, que satisfaz nossas indiossincrasias.
Se eu fosse um vinho eu certamente seria... Hum... não conto.
E você? Que vinho você seria?

terça-feira, 14 de julho de 2015

As Cozinhas do Mundo

As cozinhas do Mundo

As Cozinhas do Mundo
Meu pai era um homem elegante e um apreciador da boa mesa. Foi ele um dos primeiros apreciadores de vinho que conheci. Possuía um termômetro para servir vinhos na temperatura correta, conhecia as regiões mais importantes da França e Itália e não hesitava em provar a culinária de culturas diferentes.
Leitor ávido, leu até o último dia de sua vida. Sua biblioteca culinária, herdada por mim, era das mais ecléticas. Misturados entre clássicos da cozinha francesa havia exemplares sobre cozinha chinesa, japonesa, italiana, judaica, grega, coreana, etc. Havia outros, mais estranhos, sobre cozinha para artríticos (adquirido por causa de uma bursite), cozinha ecológica (uma prévia da cozinha orgânica), cozinha para robots (ele comprou um robotcoupe), cozinha para pressão alta e, é claro, cozinha para colesterol.
Já naquela época, quando não se cogitava de orgânicos, ele já expressava preocupação com a origem dos ingredientes, e acreditava piamente nas propriedades curativas dos alimentos.
- Os legumes e frutas são alimentos de proteção –  preconizava ele.
Sua obsessão, conforme anteriormente mencionada, era o alho-poro. Não havia receita em que não o empregasse. Até na feijoada. Eu descobri por acaso, pois uma noite, nas vésperas de um de seus almoços para os amigos, eu o pilhei na cozinha adicionando uma significativa quantidade do dito cujo na panela do feijão. Ele deu uma risadinha meia sem graça, bem característica, e comentou:  - Alho-poro: ingrediente excepcional.
Foi ele quem me apresentou as diferentes cozinhas, que na época eram conhecidas por poucos.
Grande admirador da cozinha chinesa e de sua diversidade, dizia ele que os chineses são capazes de cozinhar qualquer coisa que ande com as costas voltadas para o sol.
Recentemente pude comprovar sua afirmação, ao receber pela internet várias fotos de iguarias chinesas vendidas nas ruas de Pequim: cobras, lagartas, escorpiões e outros seres rastejantes, artisticamente arrumados em espetinhos para serem devidamente degustados pelos ávidos fregueses.
Meu pai dedicou-se às diferentes cozinhas do mundo com o mesmo entusiasmo, de acordo com seus interesses e veneta.
Houve uma época, por exemplo, em que cismou com fondue. Comprou uma panela e 12 garfinhos, e todo o fim de semana era fondue para a família. É claro que a mesa virava uma praça de guerra onde a panela, localizada no centro, era o alvo a ser conquistado e os comensais os guerreiros, a lutarem com seus garfinhos por um naco de carne ou de pão ( os fondues eram alternadamente de carne ou de queijo). Ganhavam, é claro, os mais espertos e os mais famintos.
Minha mãe, que insistia em manter as aparências de civilidade e não perdia a pose, saía sempre com fome. Nós, por outro lado, nos engalfinhávamos sem a menor classe, na luta pelo último pedaço, mosqueteiras da gula.
Graças a Deus, meu pai logo depois passou a se interessar pela culinária italiana, muito provavelmente por influência de minha mãe, que já não agüentava mais aquelas cenas grotescas na mesa.
 Suas feijoadas tornaram-se antológicas e suas macarronadas fizeram história na família. Sua receita de espaguete a bolonhesa é para mim a melhor que já provei até hoje.
Ao completar dezoito anos, meu pai me levou com ele para uma viagem ao México e Estados Unidos, onde ele foi a trabalho.
Foi a minha primeira viagem internacional. Foi nessa viagem que fui apresentada às cozinhas do mundo.
 Meu pai, com sua visão peculiar da realidade, me deu de presente para ler no avião, em vez de um guia turístico qualquer, Pedro Páramo, de Juan Rulfo, e A Erva do Diabo, de Carlos Castanheda.  E assim, na alegre companhia dos fantasmas dos antepassados de Pedro Páramo, e de Don Juan e suas experiências alucinógenas com mescal, lá fui eu para o México.
O México é um país colorido, que mistura história, religiões, tradições, revoluções, cultura e pimenta. O país me surpreendeu. Assim como a quantidade de pimenta que consomem.
Comem pimenta com tudo. Fui a um mercado de rua e fiquei impressionada com a quantidade e variedade de pimentas que havia: aji, jalapeño, chili, diversos tipos de malagueta, e muitas outras.  Coloridas e com diversos formatos, as pimentas pontificavam em todas as barraquinhas, e eram vendidas frescas, em conservas e secas. Havia também várias barracas oferecendo comidas típicas, as quais eram servidas com generosas porções de diferentes molhos de pimenta. Eu arregalei os olhos quando vi um senhor abrir uma maçã, e regá-la com uma colherada de pimentas antes de comer.
 Durante a viagem eu tinha que acompanhar meu pai em diversos compromissos oficiais, alguns interessantes, outros bem chatos.
Entre outros, fomos a um jantar oferecido num lugar chamado Hacienda de los Morales, uma hacienda de mais de 400 anos de idade, atualmente transformada em casa de eventos.
Logo na entrada imponente, um corredor iluminado com tocheiros já fazia o clima. Os salões, revestidos de pesados painéis de madeira maciça, remetiam a uma época de fausto e luxo severo, que me fez imaginar os antigos donos, senhores feudais.
O jantar era para cerca de 200 pessoas, distribuídas em mesas para dez pessoas, iluminadas com velas, e talheres postos para um banquete. O cenário era majestoso e fiquei imaginando aquele salão, em outros tempos, com las señoras e seus leques rendados, los señores galantemente vestidos em trajes de toureiros, e, claro, o toque final, com o Zorro adentrando pendurado no lustre gigantesco por seu chicote.
Sentamo-nos em uma das dezenas de mesas redondas, decoradas com imponentes candelabros. Da cozinha sai a procissão de garçons engalanados em suas roupagens de honra, vestidos de toureiros, portando em seus braços os pratos que seriam distribuídos aos convivas.
Não posso deixar de mencionar que as recomendações de infância haviam sido devidamente refrescadas. Guardanapo no colo, mãos pousadas sem cotovelos, e deixar comida no prato, nem pensar.
Um dos toureiros depositou o primeiro prato diante de mim. Tratava-se de um ceviche de peixe. Meu pai me explicou que ceviche era um peixe marinado em limão, sem passar pelo fogo e me lançou um olhar significativo. Suspirei e comecei a comer. O peixe tinha uma textura agradável e sua acidez, acompanhada pelo molho picante, tornava o prato bem agradável.
O cardápio era de comida típica, claro. Era a minha primeira experiência com uma cozinha nova. Até o momento tudo bem.
O toureiro trouxe o segundo prato. Era uma espécie de coquetel de camarões com abacate e uma salsa de tomates bem apimentada. Os camarões estavam bem firmes, o contraste do tomate junto com o abacate macio era surpreendente, a pimenta na medida certa acrescentava sabor.  Eu comecei a ganhar confiança e me achar cosmopolita e sofisticada.
O terceiro prato foi colocado à minha frente. Diante de mim havia uma carne de animal não identificado, coberta por um molho muito espesso e escuro. Mais uma vez meu pai, fonte inesgotável de conhecimentos, me supriu com informações sobre a cozinha mexicana. “Trata-se de um mole poblano”- disse ele. “É o prato nacional do México. Carne de peru com molho”. Ele se absteve de entrar em maiores detalhes sobre o prato, em cuja composição entra chocolate, provavelmente para evitar qualquer preconceito de minha parte, e, óbvio, me fulminou com o indefectível olhar.
Animada pelas experiências anteriores e coagida pelo Olhar, eu dei a primeira garfada.
Fogo líquido me entrou pela boca e se espalhou por todo o caminho até meu estômago. Hoje em dia sou bastante valente para pimentas, mas naquela época ainda não era uma grande apreciadora do condimento.
Comecei a ficar vermelha e não havia água suficiente para aliviar a queimação por dentro.
Lágrimas copiosas escorriam de meus olhos, sem que eu tivesse noção.
Meu pai, que até então estava distraído conversando com os outros convidados e ainda não havia provado o prato, me olhou e perguntou surpreso. “O que houve minha filha? Saudades de casa?”. Ao que eu miseravelmente respondi: “Não, pai. É a pimenta”.
Pela primeira vez ele me permitiu deixar a comida no prato.
Em Nova York, meu pai me levou a uma sucessão de restaurantes de diferentes nacionalidades, onde me fez provar, entre outras, a cozinha grega e turca, chinesa e japonesa.
Conheci os kebbabs, tomei sopa de ninho de andorinha,  provei  meu primeiro sashimi e me afogueei nos vapores do wassabi ( pela segunda vez a comida me fez chorar).
Aprendi muito naquela viagem. Porém, o mais importante foi o despertar de minha curiosidade e interesse pelos diferentes ingredientes, diferentes texturas e sabores, até então desconhecidos.
Um novo universo se abriu para mim. Eu pude ter uma noção da diversidade de nossa espécie, das infinitas diferenças culturais e ambientais que existem pelo nosso mundo, apenas pelas diferentes cozinhas que pude experimentar. Não pude deixar de comparar fascinada a dieta dos japoneses (eu havia ficado bastante impressionada com o sashimi e com os sushis) e o nosso nordestino. Somos todos parte de uma mesma espécie e, no entanto, há diferenças abissais entre as formas de se viver e de se alimentar. O que me leva à inevitável conclusão: somos aquilo que comemos.
Devo ao meu pai muito. A vida, evidentemente. Minha educação formal e subsistência.
Sobretudo, devo a ele o que sou hoje em dia. Afinal, foi ele quem me fez amar a comida que faço.
Foi ele quem me mostrou as cozinhas do mundo.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Buenos Aires: O Óbvio e a Meia Furada

Buenos Aires: O óbvio e a meia furada.

A vida me tem sido generosa.  As oportunidades têm batido à minha porta com frequência. Ë como minha mãe dizia, oportunidade é um bicho cabeludo pela frente, e careca por trás.  Portanto, lá fui eu de novo botar o pé na estrada.  Alguns amigos me convidaram para acompanha-los num périplo gastronômico por Buenos Aires.
Fomos atrás do obvio: vinho, carne e tango (eu).
Alguns torcerão  seus narizes. E os restaurantes contemporâneos, com menus degustação, chevicherias, peruanos, italianos ? Irei a cevicherias e comerei comida peruana no Peru. Irei a restaurantes italianos na Itália. Quanto a cardápios degustação, há muito que me entedio depois do terceiro prato.
À medida que envelheço, a simplicidade me atrai. Sabores nítidos, texturas definidas, refogados, comida de panela.
Por conseguinte, descobrir qual a melhor carne de Buenos Aires, me pareceu uma missão digna e necessária.
Chegamos a Buenos Aires lá pelas tantas, e, decididos, partimos para a primeira casa.
Tratava-se de uma das mais tradicionais casas de carne de Buenos Aires, a Mirasol, onde eu já havia estado há cerca de um ano.. Decoração estilo anos 50, garçons de summer, maitre de smoking - o tempo parou naquele lugar.
A nossa volta, argentinos de terno, famílias e mesas de amigos nos indicavam que estávamos em um estabelecimento frequentado pelos locais.
Por coincidência, o mesmo garçom que me havia atendido na outra vez me reconheceu e veio nos atender. Ernesto, era o seu nome. E usufruímos do privilégio de ser reconhecido em um restaurante.
Logo nos sentamos e pedimos nosso primeiro Malbec.  Um Achaval Ferrer 2013, um pouco fechado no inicio, porém, depois de algum tempo, abriu e revelou-se um belo acompanhamento para nossas carnes.
E estas chegaram. Me perdoem os vegetarianos de plantão, mas o homem é carnívoro. Estamos no topo da cadeia alimentar. A nossa frente estavam ojo de bife, vacío, molejas, asado de tira,  nacos suculentos, grelhados à perfeição, acompanhados por papas fritas ( de verdade ).  Tem coisas que não se explicam. Não sei se foi o frio ou a fome, o fato é que foi uma das melhores refeições dos últimos tempos. Sabores simples, quase primitivos porém opulentos, regados a vinhos copiosos, e acompanhados pelo riso solto, fizeram daquela noite um marco em minha memoria. Cheguei ao hotel em paz com meu estômago e com minha alma.
Nos próximos dias continuamos a nossa maratona em busca da melhor carne: La Cabreira, Estilo Campo, La Brigada, La Cabaña, La Caballeriza...
Ao cabo de 5 dias, passei a sonhar com um boi mugindo ao meu lado. Devo confessar que embora todas servissem excelente carne, para mim, sem dúvida, a Mirasol foi a melhor.
Em minha ultima noite em Buenos Aires, recusei terminantemente qualquer menção a comida e fui assistir ao show de tango.
Brega? Eu? Talvez. Pouco importa. Como disse antes fui atrás do óbvio.
Procurei o melhor espetáculo de tango de Buenos Aires, num belo teatro, em estilo clássico. Sentei-me em meu camarote, só. Naquele momento desejei ter um leque, como as damas de outrora, mas ao meu alcance, somente meu celular. Sinal dos tempos...
Começou o espetáculo. Tango, tango, tango. Clássico, encenação de milongas, contemporâneo... o tempo passou sem eu perceber.
Chega o numero final. Os dançarinos principais, um belo casal,  executam a dança.
Ela, pele alva, braços e pernas torneados de bailarina, vestida de negro, contrastava com ele, moreno, esguio, cabelos escuros, também em negro.  O palco era deles. Sensualidade, graça, força, leveza... O lamento pungente do bandoneon pontificava na orquestra.
E aí,  estava lá. O buraco na meia. Um ponto branco, na altura da coxa revestida de negro, aparecia pela fenda do vestido.
Não! Minha vontade era gritar: “ – Sua meia está furada! “. Todo o encanto da cena havia sido tragado pelo buraco branco. Não conseguia desviar meu olhar do pequeno buraco, que lenta e inexoravelmente aumentava, à medida que a dançarina executava os passos e rodopios.
De repente, como se um raio me houvesse atingido, tive um momento de absoluta clareza. O buraco na meia era a representação da humanidade que há em nós. E a perfeição da humanidade reside nas imperfeições que carregamos.
Passei, então, a fantasiar que existia um grande amor entre os dançarinos e que ambos estavam ali a demonstrar um ao outro o sentimento mútuo, indiferentes à  plateia que os rodeava, indiferentes às mundanidades. Nos momentos em que a humanidade se derrama sobre nós, sob a forma de sentimentos, sejam eles amor, paixão, ódio, quem se importa? Meia furada, a maquiagem escorrida, o cabelo desfeito, o botão que falta na camisa... Que importa? Quem se importa?
A dança acabou. No meio do palco, arfantes, com o suor escorrendo por suas têmporas, os dançarinos se curvam agradecendo os aplausos. Eles se entreolham e se retiram. O show acabou.
Fui atrás do óbvio e achei. Nas refeições generosas, nos vinhos copiosos,, nas carnes opulentas, nas risadas soltas, no tango e na meia furada.
Não chores por mim. Argentina, pois voltarei.
Sempre atrás do óbvio.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Nova York 3.0: A Loura Diet Coke.



Nova York 3.0: A Loura Diet Coke

Minha última noite em Nova York. Malas por fazer, afinal quem resiste a umas comprinhas... Decidi jantar no próprio hotel.
Fiquei hospedada num hotel badalado -  hotel boutique, como chamam por aí- com um restaurante descolado, do Jeans Georges. Tanto o restaurante quanto o bar são frequentados pelos executivos e moradores do Upper East Side, sem dúvida gente da melhor estirpe. Ambos estabelecimentos vivem lotados de domingo a domingo.
Eu havia reservado para mais tarde, um horário mais tranquilo.
Depois de arrumar as malas, desci para relaxar e aproveitar minha ultima noite. Sentei-me no bar à espera de Mr. John, e pedi meu copo de Sancerre. Olhei ao redor, observando o publico eclético.  Homens e mulheres, em grupos ou a sós, cada um deles procurando por diversão, conversas, lazer, por uma companhia para a noite ou pelo par para a vida toda. Por trás de cada risada, sorriso, trejeito, charme, percebe-se a ansiedade, a insegurança, a certeza de que se está abafando, os olhares furtivos, o desejo de agradar... e percebe-se as mãos que se esbarram, os corpos que se tocam, e diante de nós está o balé dos desencontrados sentimentos humanos.
De repente sinto um forte aroma de perfume. Ao meu lado senta-se uma loura belíssima, impecavelmente vestida, maquiada e penteada. Olhares se voltam para ela. Não pude deixar de reparar. Porém, ao segundo olhar, nota-se que a saia é um pouco curta demais, o batom é um pouco vermelho demais, a roupa é um pouco justa demais, assim como o perfume. Ela olha ao redor com um ar entediado, suspira e pede uma Diet Coke. Consulta o telefone impacientemente.
Mr. John chega finalmente. Ficara retido com reuniões de negócios. Convido-o para um drink antes de irmos para o restaurante.
De rabo de olho observo a loura. Devo esclarecer a todos, neste momento, que não sou uma xereta contumaz. Apenas as situações humanas me fascinam. Não julgo, não critico, nem condeno. Todos temos nossas fraquezas. Todos temos nossos pecados. Ao contrario, eu me enriqueço ao partilhar dessas experiências.
Chega o homem por quem ela esperava. Alto, careca, bem apessoado, um tanto barrigudo. Olha ao redor e vai de encontro a ela. A loura abre um  sorriso esplendorosamente isento de alegria. Ele se senta ao lado dela, pede um uísque, e trocam algumas palavras. Ele bebe alguns goles, paga a conta e retiram-se do bar, a loura à frente, causando suspiros por onde passa.
Fomos para o restaurante. Não me lembro do que Mr. John comeu. De minha parte pedi um hambúrguer. Ir a Nova York e não comer hambúrguer é que nem ir a Roma e não comer massa. O hambúrguer de lá é famoso.
Pedi meu vinho predileto daquela viagem. Um Amapola Creek, Cabernet Sauvignon 2010, Sonoma Valley. Redondo, aveludado, meio over como os vinhos americanos, mas exatamente do que eu precisava. Desceu como uma luva.
Meu hambúrguer chegou. Fez jus à fama. Tenro, no ponto,  delicioso, acompanhado por batatinhas crocantes. Pena que puseram azeite de trufas. Não precisava.
A noite foi longa. Havia muito o que conversar. Afinal Mr. John foi um grande companheiro de viagem. Teve a pachorra de me acompanhar em minha peregrinação gastronômica,  nem sempre bem sucedida, sem dizer um ai. Relembramos os bons momentos, o desespero para se conseguir um taxi numa tarde chuvosa,  o domingo no Central Park, a noite louca do Hell’s Kitchen, as comidas  bizarras e os trejeitos pedantes de alguns restaurantes, assim como o serviço à la italiana da Pizzaria Serafina.
Chegou a hora afinal. Não sou muito boa em despedidas.  Não gosto de dizer adeus, e até à volta me parece banal. Não  sei quando voltarei a ver Mr. John, ou se voltarei a vê-lo. A vida é tão cheia de esquinas...
Subi para o quarto, e ainda dei uma olhada nas malas.
Finalmente eu me deitei e meus pensamentos foram para a Loura Diet Coke. O sorriso frio, isento de qualquer emoção, me veio à mente. De alguma forma temos algo em comum. Em minha profissão de cozinheira, meu objetivo é trazer prazer aos outros. Ela, em sua profissão, também. Mas a diferença entre nós é que sinto alegria com o que faço, ao passo que ela, parece-me, cumpre bem seu papel. Apenas.
E cheguei à conclusão de que não há relacionamento mais honesto do que esse. Não há ilusões nem falsas expectativas. Cada um sabe o que quer, o que vai obter,  o preço que se cobra e o preço que se paga.
Apaguei a luz e dormi minha ultima noite na cidade que não dorme nunca.
See ya New York!



domingo, 28 de junho de 2015

Nova York: Casal 2.0


Nova York: Casal 2.0

E eis que minha alma adquirida (vide post Nova York 1.0), num esforço supremo, nos consegue uma reserva em um dos mais cobiçados restaurantes nova-iorquinos, frequentado pelo jetset, por artistas famosos, e por alguns brasileiros que incorrem na graça divina de o conseguirem, seja por que meios forem: o Polo Bar do Ralph Lauren. E no sábado! Às 19:00! Para alguns, certamente é como se abrissem as portas do Paraiso.
A ocasião obviamente merecia uma produção especial. Lá estávamos nós, me and Mr. John, devidamente embecados  - eu num pretinho básico, que não falha, e Mr. John em seu blazer Ralph Lauren ( I presume ) – pontualmente, às sete horas da noite.
Na porta, para nos receber, nada menos do que o Príncipe Encantado, com esvoaçantes cabelos louros, sorriso cintilante, trajando um belíssimo blazer com as nobres insígnias de sua casa ancestral – Ralph Lauren. Imediatamente solicitou a uma das princesas ao seu lado, que nos conduzisse ao bar, enquanto esperávamos nossa mesa ser devidamente preparada.
Após alguns minutos, outra princesa nos avisou que a mesa estava pronta, e nos guiou até o salão do restaurante,  decorado no estilo castelo de caça inglês, com paredes ricamente  forradas com painéis de madeira, onde gravuras com  cenas de caçadas, belos cavalos, cães, etc. se espalhavam. Por toda a parte havia vitrines de mogno, com belos objetos de época, em prata.
As mesas resplandeciam com toalhas de linho, arranjos florais, copos de cristal e talheres de prata.
Fomos acomodados um  aconchegante nicho junto à parede, numa mesa de canto. Do outro lado havia outra mesa exatamente igual à nossa.
Uma garçonete solícita nos entregou os cardápios. Fiquei surpresa em ver que todos os  pratos faziam parte  da cozinha tradicional americana, no estilo anos 50.
Não resisti e pedi uma roasted chicken com mashed potatoes and gravy. Nada mais retrô. Mr. John atacou de ribeye steak and roasted potatoes.
Escolhemos um vinho californiano, é claro. Chega, então,  à mesa outra atendente e nos serve o mais delicioso popover que já provei. Para quem não conhece, popovers são uma receita americana de pãezinhos de massa líquida.
Quentinhos, dourados, macios e ocos por dentro. Quase fui à lagrimas.  Minha mãe fazia estes pãezinhos para mim nas tardes de domingo. Mr. John, nova-iorquino, estranhou a minha comoção. Contei a ele minha historia.
De repente, chegam os ocupantes da mesa ao lado. Ele chegou primeiro. Alto, magro, fisionomia jovem com cabelos grisalhos, num blazer impecável e calça jeans de grife ( acho que é uniforme obrigatório para se ir ao Polo bar), parecia ser um modelo dos anúncios da marca. Ela chegou alguns minutos depois. Loura, obviamente, cabelos artisticamente presos num coque, chique, com vestido e bolsa em preto e branco, impecáveis, talvez até demais.
Ele se levantou e recebeu-a com um sorriso daqueles. Ela, mais discreta retribuiu com um discreto beijo na face.
Ralph e Lauren ( como os chamei mentalmente, de imediato ) se sentaram. Imediatamente Ralph estalou os dedos e pediu champagne.
Nossos pratos chegaram. O franguinho estava delicioso, crocante por fora e macio e tenro por dentro. Meu purê de batatas veio como eu imaginava. Rústico, com textura opulenta, e o molho por cima completava o conjunto.  Paladar infantil, alguns dirão. Porém os sabores me acalentaram. Mr. John, por sua vez estava bastante feliz com o suculento filé que lhe puseram a frente.
Na mesa ao lado, os ocupantes brindavam com champagne rosé e olhos nos olhos. Achei que iria assistir a uma dessas cenas românticas em que o rapaz se ajoelha, tira aquele anel de brilhante do bolso e pede a moça em casamento.
Eu me remexi na cadeira, já pensando em como fazer para tirar um foto e postar, é claro. Mr. John não gostou de minha atenção desviada e me disse algo do tipo “mind our own business”.
Voltei minha atenção para ele e para o meu franguinho, não necessariamente nessa ordem.
De repente o drama! Lauren se levanta rapidamente e sai . Ralph permanece sentado. de fisionomia franzida.  Sobre a mesa dois pratos de salada, praticamente intocados. Laureen está demorando. Ralph pede a conta.
Meu Deus! Lauren foi embora e largou Ralph sozinho na mesa? Lauren retorna. Trocam algumas palavras e ambos se levantam e vão embora, deixando os vestígios de uma noite que não aconteceu, de uma pergunta não formulada, ou de uma promessa que não se concretizou.
 A bela cena romântica que eu havia imaginado se transformara numa  cena de tristeza e desilusão por parte de alguém . Suspirei e tratei de me consolar com uma belíssima torta de maçãs,  com uma crosta fininha,  recheada com douradas maçãs caramelizadas e sorvete de baunilha.
Saímos do restaurante e fomos dar uma caminhada pela Quinta Avenida, em frente ao Central Park.
Caminhei em silencio, pensando que mesmo no Maravilhoso Mundo de Ralph Lauren, onde os homens  são belos e usam blazers com insígnias douradas, e as mulheres são louras, lindas e usam pretinhos básicos, há laços feitos e desfeitos e amores acabados. Nessa terra encantada os casais também vivem felizes ou infelizes. Para sempre?
Não me esquecerei dessa noite inusitada, em que comi um frango assado com purê de batatas,  em Nova York,  num restaurante chique. O Ralph Lauren sabe das coisas...

sábado, 20 de junho de 2015

New York 1.0



Nova York 1.0

 Tem que ir! Imperdível ! As dicas chovem quando a gente, com aquele sorriso blasé e ar mundano, anuncia casualmente: “Vou para Nova York”.
Restaurantes da moda, com menus degustação, chiques, descolados, temos que fazer a peregrinação e bater o ponto em cada um deles, dizer que fomos, pois afinal de contas, também somos descolados  e chiques.
O primeiro desafio é conseguir uma reserva.  Pelo menos com um mês de antecedência. Se você for do tipo que decide  sua viagem de última hora, você pagará caro por sua impulsividade. Para conseguir um lugar nesses Olimpos da gastronomia, você precisa comprar a alma de algum concierge, o que requer uma certa argúcia, além, é claro, de uma bela soma, para não desperdiçar  seu tempo e dinheiro, com uma alma incompetente. Eu, como padeço da eterna insustentável leveza dos distraídos, que não conseguem planejar a próxima semana, fui, a contra gosto, obrigada a adquirir uma dessas almas.
Minha alma adquirida desceu aos infernos e de lá extrai a primeira reserva . Restaurante disputadíssimo, ganhador de  vários prêmios internacionais, tido como um dos melhores de NY e, porque não, do mundo.
Lá fomos nós, me and Mr. John, minha companhia naquela cidade.
Chegamos por volta das 19:00, horário considerado chique. Na porta, nada menos que o próprio Ken, o marido da Barbie, com dentes de mentex, e um sorriso plastificado. Maneiroso, ele chamou uma atendente, que deve fazer anúncios na Vogue como bico, a qual nos levou a nossa mesa.
Logo nos acomodamos e diante de nós foi colocado um prato negro, de formato retangular, com duas carreirinhas brancas, meticulosamente paralelas, num canto. Não! Não é o que vocês estão pensando! Algo para intensificar os sentidos!
Era apenas sal. Logo vieram dois pãezinhos bem gostosos.
O garçom nos ofereceu água, a qual, pasmem, segundo ele, era fabricada especialmente para o restaurante. Até então, imaginava que água era a maior dádiva da natureza para os homens, disponível em rios, poços, fontes, etc.
O cardápio nos foi apresentado. Era aquilo ou aquilo mesmo. O garçom perguntou se havia algum tipo de restrição alimentar, o que me pareceu estranho, uma vez que não havia alternativas.
Pessoalmente, não tenho restrições de espécie alguma. Sou capaz de provar, e julgar se gosto ou não, qualquer alimento que não seja extremamente bizarro.
Mr. John, que é mais chegado a um espaguete ao sugo, suspirou. Confesso que fiquei com a ideia na cabeça, de que, caso houvesse restrições, seriamos gentilmente convidados a sair.
Escolhemos a harmonização de vinhos , para  acompanhar a refeição. Mal sabia eu o que me esperava.
Começou então, um desfile ininterrupto de pequeninas porções, artisticamente dispostas, que se assemelhavam, tanto em aparência, quanto no gosto, a ímãs de geladeira. Espumas de cor indefinida, que pareciam cuspe, o mesmo queijo em três texturas ( prefiro o queijo como ele é), trilogia de salsa, etc.
De repente chega uma latinha fechada. Lá no fundo havia uma batatinha cozida disposta sobre uma areia crocante, que não chegava aos pés de nossa farofa. Representava o tubérculo e a terra onde foi cultivado. Com uma certa dificuldade, consegui garfar a batatinha e provei. Advinhem! Tinha gosto de...batata!
Mr. John começou a se remexer na cadeira. O jantar nem havia começado.
Comecei a ficar um pouco tensa.
Chegou o primeiro prato.  Era a salada. Num vasinho um arranjo ( as folhas) e numa cuia uma esfera ( o vinagrete). Não havia garfo. Vieram as instruções: com as mãos, mergulhe as folhas na esfera, para que você possa apreciar o aspecto lúdico da comida. A vinagrete só tinha gosto de cominho e  de sementes de coentro. Detesto cominho. Mesmo que gostasse, estava demais.
Segundo prato: peixe.  Gostei da textura do peixe, levemente cozido em baixa temperatura, com uma espuma de sauce hollandaise, levemente aromatizada com wassabi.  Chegou à mesa numa espécie de aquário, sobre um caldo. Tratei de pescar o bocadito, e sorvi o caldo com ajuda de uma delicada colher de café.
Da mesma forma artística vieram outros pratos, servidos em aramados, chaleiras, cubos, etc, todos acompanhados de meticulosas instruções fornecidas pelo garçom . E a refeição se arrastava.
Mr. John começou a transpirar.
Finalmente a sobremesa, a qual, é claro, era uma desconstrução de varias receitas tradicionais. Já não me lembro o que era. Os vinhos, a sucessão quase infinita de bocadinhos, as instruções... muita informação.
Num certo momento, eu me senti num circo, sem ter a certeza de quem eram os palhaços...
Pedimos o café, que estranhamente veio numa xícara.
Saímos do restaurante com uma sensação singular e paradoxal. Estômago cheio e barriga vazia.
Paramos numa carrocinha e comemos cachorro-quente.




segunda-feira, 25 de maio de 2015

Você conhece Geraldinho?







Ninguém conhece Geraldinho, ou melhor, Geraldinhos. Já pesquisei no Google e não há referencias a este docinho, que fez parte de minha infância. Foi criado por minha avó.
O porque do nome permanecerá para sempre um mistério. A principio, achei que era algum tio, mas não há registros de parente com este nome na família.
Gosto de imaginar minha avó numa tarde qualquer, já idosa, preparando agradinhos para as netas, e ter a ideia de fazer pão-de-ló em forminhas de empadinhas.Ela gostava de fazer coisas pequeninas para a gente. A massa deve ter ficado seca e então ela teve a ideia de embebê-las em calda, assim como os papos de anjo, que tão bem fazia.
Talvez, naquele momento, lhe tenha vindo a lembrança de algum namorado dos tempos de mocinha e, com um sorriso secreto, resolveu dar o nome em homenagem ao amor antigo. Ou então queria implicar com meu avô, que se chamava Oscar.
Quem come um Geraldinho não esquece. Eu, pelo menos nunca esqueci. Lá vinham eles, em forminhas de margarida, molhadinhos e rescendendo a baunilha e raspa de limão, empilhados sobre um belo prato de cerâmica colorido.
Compartilho agora com vocês esta receita, talvez inédita, talvez não, afinal existe o tal do inconsciente coletivo, tão querida da minha infância.
Geraldinhos

Ingredientes

40g de manteiga (2 colheres de sopa)
80g de açúcar
4 gemas
4 claras em neve
1 colher de chá de fermento em pó
80g de farinha de trigo
1 colher de café de baunilha.
sal 1 pitada
Calda:
250g de agua
300g de açúcar
raspa de  1 limão

Preparo:
Bater açúcar com as gemas e a baunilha, juntar a manteiga. Juntar a farinha peneirada com o fermento e o sal.
Juntar as claras em neve.
Dispor em forminhas de empada untadas com manteiga. Assar em forno a 180.
Fazer a calda em ponto de fio
 Mergulhar na calda quente e escorrer.
Arrumar em forminhas laminadas em forma de margaridas.
servir junto com um bom cafezinho fresco.
   
  


domingo, 24 de maio de 2015

Eu quero é botar meu blog na nuvem!





Eu quero botar meu blog na nuvem

Escrever para mim é uma benção e uma maldição.
Sou erratica por natureza, e minha inspiração não obedece a disciplina alguma que lhe foi imposta.
Tentei, por varias vezes, estabelecer uma rotina de escrever, que invariavelmente resultou em angustiantes horas diante de uma tela em branco, alternada com visitas ao Face Book.
Sou acometida de "surtos literarios" que, sem qualquer aviso se abatem sobre mim. Acontecem na esteira da academia,  numa caminhada na beira da praia. ou durante  alguma conversar desinteressante, o que me faz passar por  biruta, distraída, excêntrica, ou coisa que o valha. Cá com  meus botões, acho que são detonados por alguns sentimentos como melancolia ou euforia extrema.
De repente, é como se um dique se tivesse rompido, e uma enxurrada impiedosa de palavras jorra e se derrama por todo o meu cerébro, e que por lá permanecem me assombrando, dia e noite,  até que eu as aprisione numa tela branca de computador, onde então se aquietam.
Passei um bom tempo submersa num mar de mesmices, presa num barco chamado rotina, onde, para qualquer direção que se olhasse, só havia marasmo e mediocridade.
Cá estou de volta, escrevendo como sempre com o coração acelerado, correndo atrás das minhas ideias soltas, antes que fujam de minha cabeça e voltem para o desterro do esquecimento, de onde ficarão me assombrando por não tê-las posto a salvo.
Cá estou eu, querendo botar meu blog na nuvem da internet, que flutua e que está em todas as partes, como uma divindade onisapiente, onde paira todo o conhecimento da raça humana. E por lá, junto com todas as outras ideias lá depositadas, junto com a genialidade, mediocridade,  riqueza, miséria, bondade, maldade, engenhosidade, criatividade e tudo o mais que a humanidade criou,  minhas ideias ficarão vagando pelo universo.