sábado, 1 de outubro de 2016

TEMPO


O tempo é o maior presente que a vida nos dá. Esta, no entanto, não nos entrega de maneira arrumadinha, ordenada.  Ao contrário, maliciosamente, ela nos atira na cara, aos borbotões, de forma errática, o que nos leva a acreditar que é infinito.
 E este desgoverno faz a gente viver dias que não acabam nunca e outros  que passam num piscar de olhos. Horas que passam num instante, minutos que se arrastam por horas, segundos que parecem uma eternidade e os anos que passam tão rápido como areia que escorre entre nossos dedos.
E não há controle sobre o tempo. Estamos a mercê de seus caprichos, sem saber jamais se o estamos aproveitando ou apenas desperdiçando.
Nesta semana, ao completar mais um ano de vida, faço a ela,  como nos últimos tempos, apenas um pedido: eu quero tempo.
Não preciso deste para corrigir erros passados, pois estes já foram cometidos e lá no passado permanecerão. Tampouco para me arrepender do que passou.
Preciso de tempo para andar por novas estradas, novos rumos. Para conhecer novas pessoas. Para viajar e conhecer todos os lugares com os quais sonhei. Para por os pés em todos os continentes.
Preciso de tempo para voltar a um certo bar em Nova York, me sentar no balcão, tomar um copo de vinho branco Sancerre e conversar com o cara ao lado,  de cujo nome provavelmente não me lembrarei, e que, por duas horas será o meu melhor e mais sincero amigo e confidente.
Preciso de tempo para ver de novo uma  lua cheia que parece de filme do Spielberg.
Para ver a Aurora Boreal,  visitar a ilha de Skye na Escócia, . Para passar um verão em Porto Fino.  Para passar um bom tempo em Portugal. Para voltar a Goiás e passar férias na Chácara do Padre. Para catar manga madura e molhar os pés na beira de um riacho.
Quero tempo para  passar uma tarde numa praia de areia quentinha, de mar morno e sem ondas,  como as da Bahia, tomar uma caipirinha  e comer peixe fresco. Para dormir e acordar sem ter hora, e sair às quatro da manhã para ir a uma festa que nunca acaba.
Preciso de tempo para comprar um vestido vermelho de saia rodada e sandálias pretas de salto alto, para usar numa ocasião muito especial.
Preciso de tempo para provar novos vinhos e para – sim, porque não? – viver um novo grande amor, pois todo amor deve ser grande, sem ser para sempre, pois é tão passageiro quanto a própria vida.
Preciso de tempo para coisas mais prosaicas. Para ver o final de todas as minhas séries favoritas na Netflix, para ler todos os livros que se empilham na minha cabeceira e nas prateleiras das livrarias.
Para acabar de escrever o meu próprio livro de memórias, mesmo que jamais o publique, ou que alguém o leia.
Para ouvir de novo todas as minhas músicas favoritas, dançar junto em algumas e loucamente em outras.
Para rever amigos antigos e conviver com os de sempre, para experimentar todas as receitas que tenho na minha cabeça, para rir o máximo que puder até a barriga doer, para perdoar e esquecer as mágoas passadas.
Finalmente, preciso de tempo para ver meus filhos, netos, bisnetos e, quem sabe, tataranetos,  permanecerem e prosperarem sobre esta terra.
E é só o que peço. Tempo.
Pois, por mais longa que nos pareça esta vida, no final  ela é sempre muito curta.