Nova York: Casal 2.0
E eis que minha alma adquirida (vide post Nova York 1.0), num esforço supremo, nos consegue uma reserva em um dos mais cobiçados restaurantes nova-iorquinos, frequentado pelo jetset, por artistas famosos, e por alguns brasileiros que incorrem na graça divina de o conseguirem, seja por que meios forem: o Polo Bar do Ralph Lauren. E no sábado! Às 19:00! Para alguns, certamente é como se abrissem as portas do Paraiso.
A ocasião obviamente merecia uma produção especial. Lá estávamos nós, me and Mr. John, devidamente embecados - eu num pretinho básico, que não falha, e Mr. John em seu blazer Ralph Lauren ( I presume ) – pontualmente, às sete horas da noite.
Na porta, para nos receber, nada menos do que o Príncipe Encantado, com esvoaçantes cabelos louros, sorriso cintilante, trajando um belíssimo blazer com as nobres insígnias de sua casa ancestral – Ralph Lauren. Imediatamente solicitou a uma das princesas ao seu lado, que nos conduzisse ao bar, enquanto esperávamos nossa mesa ser devidamente preparada.
Após alguns minutos, outra princesa nos avisou que a mesa estava pronta, e nos guiou até o salão do restaurante, decorado no estilo castelo de caça inglês, com paredes ricamente forradas com painéis de madeira, onde gravuras com cenas de caçadas, belos cavalos, cães, etc. se espalhavam. Por toda a parte havia vitrines de mogno, com belos objetos de época, em prata.
As mesas resplandeciam com toalhas de linho, arranjos florais, copos de cristal e talheres de prata.
Fomos acomodados um aconchegante nicho junto à parede, numa mesa de canto. Do outro lado havia outra mesa exatamente igual à nossa.
Uma garçonete solícita nos entregou os cardápios. Fiquei surpresa em ver que todos os pratos faziam parte da cozinha tradicional americana, no estilo anos 50.
Não resisti e pedi uma roasted chicken com mashed potatoes and gravy. Nada mais retrô. Mr. John atacou de ribeye steak and roasted potatoes.
Escolhemos um vinho californiano, é claro. Chega, então, à mesa outra atendente e nos serve o mais delicioso popover que já provei. Para quem não conhece, popovers são uma receita americana de pãezinhos de massa líquida.
Quentinhos, dourados, macios e ocos por dentro. Quase fui à lagrimas. Minha mãe fazia estes pãezinhos para mim nas tardes de domingo. Mr. John, nova-iorquino, estranhou a minha comoção. Contei a ele minha historia.
De repente, chegam os ocupantes da mesa ao lado. Ele chegou primeiro. Alto, magro, fisionomia jovem com cabelos grisalhos, num blazer impecável e calça jeans de grife ( acho que é uniforme obrigatório para se ir ao Polo bar), parecia ser um modelo dos anúncios da marca. Ela chegou alguns minutos depois. Loura, obviamente, cabelos artisticamente presos num coque, chique, com vestido e bolsa em preto e branco, impecáveis, talvez até demais.
Ele se levantou e recebeu-a com um sorriso daqueles. Ela, mais discreta retribuiu com um discreto beijo na face.
Ralph e Lauren ( como os chamei mentalmente, de imediato ) se sentaram. Imediatamente Ralph estalou os dedos e pediu champagne.
Nossos pratos chegaram. O franguinho estava delicioso, crocante por fora e macio e tenro por dentro. Meu purê de batatas veio como eu imaginava. Rústico, com textura opulenta, e o molho por cima completava o conjunto. Paladar infantil, alguns dirão. Porém os sabores me acalentaram. Mr. John, por sua vez estava bastante feliz com o suculento filé que lhe puseram a frente.
Na mesa ao lado, os ocupantes brindavam com champagne rosé e olhos nos olhos. Achei que iria assistir a uma dessas cenas românticas em que o rapaz se ajoelha, tira aquele anel de brilhante do bolso e pede a moça em casamento.
Eu me remexi na cadeira, já pensando em como fazer para tirar um foto e postar, é claro. Mr. John não gostou de minha atenção desviada e me disse algo do tipo “mind our own business”.
Voltei minha atenção para ele e para o meu franguinho, não necessariamente nessa ordem.
De repente o drama! Lauren se levanta rapidamente e sai . Ralph permanece sentado. de fisionomia franzida. Sobre a mesa dois pratos de salada, praticamente intocados. Laureen está demorando. Ralph pede a conta.
Meu Deus! Lauren foi embora e largou Ralph sozinho na mesa? Lauren retorna. Trocam algumas palavras e ambos se levantam e vão embora, deixando os vestígios de uma noite que não aconteceu, de uma pergunta não formulada, ou de uma promessa que não se concretizou.
A bela cena romântica que eu havia imaginado se transformara numa cena de tristeza e desilusão por parte de alguém . Suspirei e tratei de me consolar com uma belíssima torta de maçãs, com uma crosta fininha, recheada com douradas maçãs caramelizadas e sorvete de baunilha.
Saímos do restaurante e fomos dar uma caminhada pela Quinta Avenida, em frente ao Central Park.
Caminhei em silencio, pensando que mesmo no Maravilhoso Mundo de Ralph Lauren, onde os homens são belos e usam blazers com insígnias douradas, e as mulheres são louras, lindas e usam pretinhos básicos, há laços feitos e desfeitos e amores acabados. Nessa terra encantada os casais também vivem felizes ou infelizes. Para sempre?
Não me esquecerei dessa noite inusitada, em que comi um frango assado com purê de batatas, em Nova York, num restaurante chique. O Ralph Lauren sabe das coisas...