Olhares
O restaurante era simples. Sem maiores decorações. Mesas cobertas com toalhas xadrez. Cozinha honesta, sem frescuras, farta em quantidade e em sabores.
No canto, senta-se um casal. Nem tão moços, nem tão velhos, nem bonitos, nem feios, apenas um par.
E eles se olham. E ele olha.
Ela sorri.
Ele olha.
Ela suspira e remexe o cabelo.
Ele olha.
Envergonhada, ela abaixa os olhos.
Ele só olha.
Ela torna a sorrir.
E a suspirar.
E ele olha...
O garçom coloca diante deles dois pratos.
E eles nem olham.
Apenas se entreolham.
Alheios ao mundo que os cercava, lá ficaram, apenas a se olharem, dizendo um ao outro, com seus olhares, muito mais do que meras palavras poderiam falar.
Ele estende as mãos para ela, sem desviar o olhar.
Ela toca as mãos dele, sempre a olhar.
Ela sorri. Ele olha.
Eles se levantam e abraçados vão embora. Sempre a se olharem, enlevados, na descoberta do outro.
Nem velhos, nem moços, nem bonitos nem feios, mas únicos no universo de seu amor.
E eu fiquei pensando. Feliz da mulher que, nem tão nova, nem tão velha, nem bonita, nem feia, foi contemplada, pelo menos uma vez em sua vida, com tal olhar.