domingo, 1 de novembro de 2015

Sussurros

Sussurros

Um bar de classe média, desses em Copacabana, frequentado pelas pessoas médias, no meio da semana, mediamente cheio. A conversa rolava amena entre os frequentadores, todos familiares, amigos ou moradores, conhecidos dos donos do estabelecimento.
Como a maioria dos pequenos bares do bairro, as mesas eram pequenas e encostadas umas nas outras e, portanto, mesmo sem querer, acabamos por participar dos dramas cotidianos da vida alheia.
E lá estava eu, mediamente entediada, passando o tempo, enquanto esperava por minhas companhias.
Diante de mim um copo de vinho branco, ao meu lado um casal.
Como já disse antes, sou uma observadora compulsivamente fascinada pelo comportamento humano, fonte infinita de inspiração para minhas modestas considerações a respeito da vida comum, que é a vida vivida por nós.
De frente um para o outro, sussurravam alto seus entendimentos, os quais não se entendiam.
À volta o ambiente familiar começava a se animar, certamente incentivado pelo nível etílico da clientela.
E os sussurros ao meu lado também subiam de tom. As palavras eram ditas mas, ao que parece, não eram entendidas. Ouvia-se mas não se escutava o que fora dito.  Triste e comum erro entre os casais - na ânsia de se fazerem entender pouco compreendem o que o outro quer falar. Os copos eram os dados, e ambos eram os peões do próprio jogo de emoções atribuladas, que jogavam com o desespero de viciados. E lá permaneceram,  cada um do seu lado da mesa, tabuleiro estratégico dos sentimentos ali postos em jogo. E a cada jogada, mais e mais apostavam, sem se dar conta do quanto perdiam. Amor, desamor, amizade, angústia, medo, incompreensão, dignidade, respeito, desprezo, raiva, desespero...
Não houve vencedores. Saíram ambos derrotados pela vida, que se interpôs em seus caminhos e os separou. Mas guardaram - creio e desejo a eles - ainda uma última cartada, que é a esperança, que traz consigo o remedinho mágico chamado tempo que cura tudo e faz esquecer.
Meus amigos chegaram. Fizemos um brinde à vida, tão boa, tão cruel, tão doce e tão amarga. Tão inesperada, e ainda assim esperada, mas acima de tudo, a vida que temos, que merecemos(ou não) e que vivemos.
Brindei com um chopp bem geladinho...

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