O Encontro e os
Desencontros
Era um barzinho perdido em Botafogo, daqueles sem
identidade, nem feio nem bonito, apenas mais um barzinho.
E lá estavam eles sentados numa mesa do canto para o último
desencontro.
É certo que há muitos anos atrás houve um encontro. Foi
daqueles em que duas almas se reconhecem e se encaixam como as duas últimas
peças de um quebra-cabeça e tudo passa a fazer sentido.
E assim foi, por um longo tempo, até que um vento de fora
soprou forte e desfez a figura. As pecinhas se desencaixaram e se espalharam
por aí.
Veio então a época dos desencontros, quando se perderam(ou
foram perdidos) o tempo, a hora, a oportunidade e o amor.
E a cada encontro havia mais e mais desencontros, em que o
silêncio implacável permanecia no lugar do que deveria ser dito, ou então as
palavras desnecessárias e impacientes jorravam quando o mais sábio era guardar
para si os ditames da raiva, que corroíam como ácido.
E lá estavam eles, num barzinho de Botafogo, daqueles sem
identidade, nem feio nem bonito, apenas mais um barzinho.
E lá estavam eles para o último desencontro.
Pediram uma pizza e um vinho barato, pois eram apenas
um pretexto para lá permanecerem por
algumas horas.
A pizza não tinha gosto e o vinho descia amargo. Talvez por sentirem dentro de si a mão da separação
iminente que lhes apertava o peito. Ou por serem meros adornos de uma cena
triste de um cotidiano qualquer.
Sentados, um diante do outro, pela derradeira vez, trocaram
as palavras erradas e deixaram de proferir as que realmente importavam.
E, impotentes, viram os fragmentos de sua relação, cada
momento desta, vivido por eles, se desfazer e desaparecer no ar, em direção
ao vazio.
E, pela última vez ,o silencio constrangedor se interpôs
sobre eles, como uma sentença irrevogável.
Eles se levantaram e ambos foram viver suas vidas, doravante
paralelas, cada um com a vaga e secreta esperança de um dia se reencontrarem no
infinito...
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