É verdade. Tem gente que não consegue se divertir e que quando vai receber os amigos transforma a ocasião num calvário.
Esse tipo de anfitrião é dominado por um misto de perfeccionismo e autopiedade, sério candidato ao troféu “coroa de espinhos”.
Faz questão de fazer tudo sozinho. Escolhe o cardápio mais complicado, com os ingredientes mais difíceis de serem encontrados. Começa os preparativos dois ou três dias antes, vira noites cozinhando e cuidando de detalhes.
No dia do jantar acorda às cinco horas da manhã, vai aos mercados comprar os ingredientes que “só podem ser comprados no dia”, todos raros. Após uma maratona acaba achando o que queria. Volta para casa e, ansioso (acha que não vai dar tempo de fazer tudo), entrega-se a uma atividade frenética. Cinco minutos antes da hora marcada, toma um banho rápido, veste a primeira roupa que vê. Junta as forças que lhe restam, arma um sorriso estóico e vai receber os convidados.
Passa o jantar esperando os elogios que lhe são “justamente devidos”, e que nunca são suficientes. Quando os convidados vão embora jura que nunca mais convida ninguém, porque os amigos “não lhe dão o devido valor”. Estes vão para casa achando que o fulano(ou fulana) cozinha bem mas é um chato.
Há alguns anos fui convidada para um jantar, oferecido por um amigo comum. Tratava-se de uma pessoa de profundos conhecimentos tanto culinários, como enológicos. Ao chegar me deparei com uma mesa posta com tantos copos e talheres que era difícil dizer quais eram os meus e os do vizinho. Ao lado de cada prato havia uma folha de papel e uma caneta. Logo que eu e os convidados nos sentamos, iniciou-se uma sucessão quase interminável de pratos e vinhos, como nos banquetes do Renascimento. Constatamos, então, que o papel e a caneta lá estavam para que pudéssemos fazer anotações sobre cada prato servido, descobrir seus ingredientes e dar notas. Acreditamos que todos os convidados sentiram-se numa espécie de sabatina, em que todos evidentemente foram reprovados. Cá entre nós, sabe-se que alguns sucumbiram aos excessos e à tensão gerada pelo teste e passaram mal.
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