A Arte De Sandra Moreyra
Sandra Moreyra era uma mulher inteligente, direta, dona de um dos mais belos e francos sorrisos que conheci. Sabia se expressar como poucos. Bem articulada, viajou pelo mundo a fora, trazendo informações e cultura para aqueles que eram, como eu, seus fãs incondicionais.
Apaixonada pela gastronomia, que pesquisou e que conhecia a fundo, tinha na TV Globo, no Bom Brasil, um dos quadros que certamente mais encantaram e adoçaram a boca de todos os que assistiam o programa antes de partirem para suas respectivas jornadas de trabalho. A Arte na Mesa.
Conheci a Sandra em 1995, eu ainda uma aprendiz, ao fazer um quadro no programa sobre os amadores que estavam se profissionalizando. A filmagem aconteceu na escolinha de minha querida amiga Ciça Roxo e de sua prima Leonor, que pioneiramente davam aulas de culinária para os aficionados.
Lembro-me da cheese cake de laranja com amoras que apresentei e de meu orgulho ao me ver nas telas de TV.
No ano seguinte, na mesma escolinha a Sandra gravou um programa com um jovem chef paulista, que veio dar aulas sobre Foie Gras, pouco conhecida na época. O chef estava nervoso, pois era seu primeiro programa de televisão e cortou o dedo. Trabalhou de luvas. O nome do chef era Alex Atala.
Em 1998, quando, junto com a Ciça e a Leonor montamos um ciclo de aulas com chefes conhecidos, entre eles o próprio Alex, Francesco Carli, entre outros, ela nos prestigiou.
Em Fevereiro de 2001 abrimos um restaurante na Barra, o Bistrô Montagu e lá estava ela, cliente e amiga.
E foi lá que fez algumas de suas belas matérias. Em 2004 fizemos um jantar harmonizado com a linha de vinhos Secretos da Viu Manent. A harmonização era feita por intermédio do ingrediente secreto que existia em cada prato, que deveria ser descoberto pelos comensais.
A reportagem começava por um passeio da câmera pelo restaurante, com o fundo musical de Hitchcock.
Sandra participou do jantar, é claro, e foi a mais entusiasmada em descobrir todos os ingredientes. Foi uma noite inesquecível.
Outra feita, ao fazer uma reportagem sobre caviar, começamos com o mesmo sendo derramado voluptuosamente sobre ostras cozidas no vapor de seu próprio líquido. Usamos uma colherinha de madrepérola, tal e qual os Czares e a aristocracia russa se servia.
Ao fazer suas reportagens, ela chegava com antecedência, com seu texto escrito e ensaiado. Tudo transcorria com uma fluidez impressionante.
Seus textos eram sucintos, bem escritos e continham a maior quantidade de informações possíveis. Uma craque!
Tive a oportunidade de privar de sua companhia e seu marido Rodrigo, xará do meu então marido, e lembro com muito carinho dessas tardes adoráveis em que rimos muito e ouvimos alguns de seus casos. Eram tantos.
Jamais esquecerei de sua voz grave, de seu sorriso aberto, marca registrada.
Foi e será um exemplo de profissionalismo, coragem, e de alegria de viver.
Perdemos nós, que ficamos aqui em baixo e nos privamos de sua companhia. Ganham os lá de cima que usufruirão de sua Arte na Mesa.