quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O Gosto das Palavras



O Gosto das Palavras

Sinto saudades de algumas palavras que, parece-me, caíram em desuso.
Outrora, alfarrábios, almejar, por conseguinte, soslaio, inexorável, chumbrega, outrossim,  tantas outras... Algumas engraçadas, outras poéticas, formais e por que não,  prosaicas e até bizarras: substantivos, verbos e advérbios, adjetivos, todas fizeram parte de minha infância e permanecem vivas em minha memoria.
Sinto falta do pretérito mais-que-perfeito, que por ser tão perfeito pertence aos romances de outrora, que li em minha adolescência, onde as cenas de amor tinham lugar em saraus e bailes, em que as damas flertavam com os cavalheiros com olhares de soslaio, e se abanavam  afogueadamente com seus leques.
Provavelmente são os primeiros acenos da idade - afinal somos todos destinados a envelhecer – mas acordei nostálgica, com a mente voltada para o passado.
Lembranças de infância e de outros tempos vieram me visitar, e com elas as palavras adormecidas que por lá permaneceram, guardadas em antigos alfarrábios, resquícios de trechos lidos, de fantasias imaginadas e de pensamentos ao acaso.
As palavras são nossas amigas. Mais do que isso: são a representação de tudo o que somos. São as nossas companheiras em noites insones, quando nossos pensamentos se misturam com nossos sonhos de forma inexorável, e vagam soltos e indomáveis. São nossas guias confiáveis,  quando almejamos galgar as trilhas precisas do raciocínio lógico.
Têm vida, assim como nós. E têm gosto, texturas, assim como os pratos que os cozinheiros inventam. Algumas são grandiosas como as copiosas refeições, outras são chumbregas como uma media com pão e manteiga, mas nem por isso menos valiosas.
Tem palavras doces, que se derretem na boca . Há outras voluptuosas, que fazem nossa língua se enrolar e salivar ao serem pronunciadas. Tem aquelas crocantes, que nos dão a sensação de mastigar salgadinhos de pacote.
E  há as aveludadas, que  envolvem o paladar e nos confortam. Para acrescentar temperos, podemos usar palavras picantes. Porque não?
Mas, como em tudo nessa vida, há a contra partida.
Assim como nos consolam e  acalentam, as palavras podem ser amargas como o fel, que nos escorre goela abaixo. Podem ser e são ferinas, tão ácidas que nos queimam por dentro, deixando um rastro de  feridas que não cicatrizam.
Por seu intermédio podemos dar vazão a tudo o que sentimos, o  que queremos expressar,  do amor mais sincero ao ódio mais profundo, da admiração extrema ao desprezo absoluto.  Podemos aprender e ensinar. Elas são o inesgotável alimento de nossa alma.
Diz o ditado que somos senhores das palavras não proferidas. Não concordo.
São elas as servas mais fieis de nossas ideias. Somos, no entanto, responsáveis pelo que falamos e como o dizemos. Por conseguinte, devemos ser capazes de arcar com as consequências.
Outrossim, nada mais a declarar.
Palavras! Palavras e mais palavras! Benditas sejam!



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